Ameaçado há 13 anos, juiz Odilon não tem vida social
Há 13 anos, Odilon de Oliveira, de 62, juiz federal de Mato Grosso do Sul, não sabe o que é vida social e nem viaja com a família nas férias. Ameaçado de morte pelos integrantes das quadrilhas do crime organizado que ajudou a desarticular, o magistrado vive sob a escolta de agentes da Polícia Federal. Ele atua como juiz federal no estado há 25 anos e já perdeu as contas de quantos traficantes e contrabandistas mandou prender. As ameaças recebidas e o material recolhido nas investigações, como cartas anônimas, fotos, gravações telefônicas e e-mails, lotam uma das gavetas do gabinete dele.
Lógico que eu tenho medo, mas isso não me faz desistir. Nunca tive pavor, pois isso afeta $não tem controle sobre o medo — diz o juiz.
Ele afirma que a preocupação maior é quando se aposentar, daqui a oito anos, pela idade. Mesmo tendo a garantia de seguranças para protegê-lo quando estiver aposentado, Oliveira sabe que passará a ser um ex-juiz:
Está sendo discutido o aumento da idade para a aposentadoria, eu até prefiro que a idade seja de 80 anos, aí quando me aposentar já estarei morto — diz, em tom de brincadeira.
Odilon de Oliveira mantém uma vida regrada. Acorda por volta das 5h30m e há 28 anos frequenta a mesma academia, onde faz exercícios todos os dias antes de seguir para o fórum federal. Apaixonado pelo trabalho, já leva a refeição pronta de casa, para onde retorna assim que termina o expediente. Também frequenta há quase três décadas o $salão no Centro da capital de Mato Grosso do Sul, onde cuida dos cabelos e é atendido pela manicure. Na academia ou no salão, sempre está escoltado por policiais federais.
Um dos homens está do lado dele, onde estiver. E outros monitoram o movimento ao redor. Em abril de 2005, quando trabalhava em Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai, Oliveira se hospedava no hotel de trânsito do Exército, e houve uma tentativa de invasão do local, supostamente para matá-lo. Num outro episódio, a PF descobriu que havia um plano para matá-lo e que para isso iriam subornar um soldado para colocar veneno na comida servida ao juiz.
Um outro caso foi no hotel onde Oliveira estava hospedado havia uma semana, também na fronteira com o Paraguai. Um dia, ao se preparar para levar o $para a academia de ginástica, o agente da PF suspeitou da atitude de alguns homens que estavam perto da saída da garagem, e acionou outros colegas. Quando os policiais foram abordar os suspeitos, eles saíram em dois carros em alta velocidade.
Com essa situação toda, agora tenho poucos amigos e quase não saio. É constrangedor chegar na casa das pessoas com policiais armados. Mas o que mais gosto é de ser juiz. Não me iludo com o status, e se fosse pelo salário nem valeria a pena. A minha satisfação é pelo que faço pela sociedade.
Fonte:O Globo